terça-feira, 20 de setembro de 2016

PASTINHA E BIMBA
CAPOEIRA ANGOLA E CAPOEIRA REGIONAL
“sincretismo” e “antissincretismo”

O debate sobre mistura e pureza está presente na Capoeira desde a década de 1930, quando mestre Bimba desenvolveu a Capoeira Regional, misturando elementos de lutas como o boxe, o jiu-jitsu e a luta livre. Nesse processo, mestre Bimba também retirou alguns instrumentos associados à prática do Candomblé como o agogô e o atabaque.

Mestre Bimba, contudo, o fez conscientemente, já que a prática da Capoeira, assim como o próprio Candomblé, eram denominados de “crime de vadiagem” (Reis, 2000). Depois das alterações de mestre Bimba, a Capoeira foi institucionalizada, fato que abriu espaço para a institucionalização da Capoeira Angola quase uma década depois.

A ideia de que mestre Bimba poluía a capoeira tradicional se disseminava. Foi quando mestre Pastinha organizou seu grupo de Capoeira Angola afirmando as raízes puras da Capoeira tradicional.

Nesse sentido, Mestre Pastinha foi um agente do “antissincretismo” da Capoeira, enquanto que mestre Bimba em sua prática da Capoeira Regional se afirmou como um agente de “sincretismo”; ambos construindo identidades distintas entre si, no interior do universo da Capoeira, relacionadas aos seus respectivos posicionamentos políticos.

Mestre Bimba mantinha sua relação com a religião afro-brasileira, sua criação da Capoeira Regional não foi motivada por questões religiosas, mas sim por questões políticas, ele queria que a Capoeira fosse eficiente como luta marcial e valorizada pela sociedade e o conseguiu.

Os herdeiros da tradição de mestre Bimba não vincularam à “etnopolítica” 
(Agier, 1992) aproximando-se da reivindicação junto ao Estado para que a Capoeira seja inserida nos jogos olímpicos e nas escolas. Já os herdeiros da tradição de mestre Pastinha, afirmam seu posicionamento “etnopolítico” que envolve a religião afrodescendente.

FONTE: Celso de Brito, Debates do NER, Porto Alegre, ano 12, n. 19 p. 53-75, jan./jun. 2011

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