sexta-feira, 19 de agosto de 2016

São Bento e a capoeira

São Bento e a capoeira

"São Bento é invocado para proteger aqueles que sofrem qualquer tipo de magia. Além disso, sua oração e o uso da medalha destroem o poder do inimigo. Também ajuda a se livrar das calúnias. Acredita-se que o uso da sua medalha concede intuição para reconhecer os invejosos e afastar as pessoas sem caráter."


E o que tem a ver São Bento com a Capoeira?
São Bento seria conhecido por afastar as desgraças corporais, além de proteger de agressões físicas. São Bento também é reverenciado e tido como o protetor da capoeira. Dizem que os antigos mestres, que formam o alicerce da capoeira, eram todos devotos de São Bento.
Bento escapou ao abençoar o cálice envenenado, que se quebrou em inúmeros pedaços. Daí as citações nas músicas de capoeira, quando se compara um capoeira não tão bem intencionado com uma cobra.
Existe também uma medalha do santo. Para os devotos, ela serve de remédio contra males físicos e espirituais, de pessoas e animais. Outra ideia é que a medalha é usada para se proteger contra picada de animais peçonhentos e como os capoeiras também treinavam no mato, essa medalha seria sua proteção (pessoalmente não concordo com esta parte)
Na minha humilde opinião Mestre Bimba ao nomear os toques de berimbau sabia bem do que se tratava, afinal ao entrar em uma roda de capoeira pedimos proteção de alguma forma, mas Bimba era devoto de São Bento? De acordo com os artigos publicados pelo Professor Muniz Sodré ele toca na face oculta da personalidade de Mestre Bimba, seu lugar nos mistérios do candomblé e que Mestre Bimba era Ogã de uma das vertentes da religião dos orixás mais nebulosas e desconhecidas: o candomblé do caboclo.
E que São Bento ter haver com isso? No candomblé São Bento é sincretizado com o Orixá Omolu Também chamado Obaluaiê, comanda a saúde e as doenças, Pai Omulu é o Guardião da Vida. Ou seja, São Bento é protetor contra os males da peçonha, do ardil e da trairagem, Omolu protege ou defende de formas que  atentam contra a vida do semelhante.

Acho que é isso...

(Sincretismo: Sistema filosófico ou religioso que tende a fundir numa ou várias doutrinas diferentes, mantendo traços de sua origem)

(Sincretizado: que combina princípios de diversas doutrinas ou de concepções. heterogêneas)

Oração de São Bento

São Bento se tocar na roda eu jogo
Se falar do santo eu rogo,
Eu rezo e peço proteção
Sou negro, se insistem
Em me chamar de escravo
O meu corpo sofrido e suado
São as marcas da escravidão
São marcas de todas as batalhas da vida
Vitórias e perdas sofridas
Não perco minha devoção
Carrego no peito
A medalha de São Bento
Vai me acudir do sofrimento
E me livrar da maldição
São bento se tocar eu jogo
São Bento pro santo eu vou rezar
São bento se tocar eu jogo
São bento pro santo eu vou rezar
São Bento protetor dos mosteiros
Proteja um guerreiro na hora da aflição
São Bento, toque cadenciado
Um jogo embalado com muita emoção
São Bento eu pago minhas promessas
Mas me livre dessa,
Não me deixe perder
São Bento meu santo guerreiro
Eu sou brasileiro e meu destino é vencer
São bento se tocar eu jogo
São Bento pro santo eu vou rezar
São bento se tocar eu jogo
São bento pro santo eu vou rezar

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Aqualtune: Princesa no Congo, mas escrava no Brasil - Poesia de Cordel

AQUALTUNE
por Jarid Arraes
Aqualtune era africana
Era princesa importante
Rei do Congo era seu pai
Homem mui preponderante
E por isso era criada
Como parte bem reinante.
Lá no Congo era princesa
Pois vivia tal e qual
Mas haviam outros reinos
Dos quais Congo era rival
E por isso houve guerra
Com desfecho vendaval.
Na disputa dessa guerra
O seu pai foi derrotado
E vendidos como escravos
Foi seu reino humilhado
Mais de dez mil lutadores
Também foram enjaulados.
Aqualtune foi vendida
Em escrava transformada
Foi levada para um porto
Onde foi então trocada
Por moeda, por dinheiro
Pruma vida aprisionada.
Parou num navio negreiro
Que ao Brasil foi viajar
Nos porões do sofrimento
Muito teve que enfrentar
Pois não era ele cruzeiro
Que alguém fosse desejar.
Aqualtune com seu povo
Nos porões muito sofreu
Tinham febres e doenças
Pela dor que só cresceu
Era fome e era castigo
Muita gente padeceu.
Foi no Porto de Recife
Que o navio ali parou
Quando muito finalmente
No Brasil então chegou
Aqualtune novamente
Teve alguém que a comprou.
Foi vendida como escrava
Chamada reprodutora
Imagine o pesadelo
Que função mais redutora
Pois seria estuprada
De escravos genitora.
Sua principal função
Seria a de procriar
Estuprada na rotina
Muita dor pra suportar
Imagine uma princesa
Isso tudo enfrentar!
Foi levada a Porto Calvo
Pernambuco, a região
E vivendo como escrava
Enfrentou a solidão
Os castigos e torturas
Do seu corpo a agressão.
Imagine quantos filhos
Aqualtune teve então
Tudo fruto de estupro
Fruto de violação
E ainda eram tomados
No meio dum sopetão.
Mas na vida de tortura
Aqualtune ouviu falar
Sobre a pura resistência
Dos escravos a lutar
E ouviu sobre Palmares
O que pode admirar.
Aqualtune se empolgou
Do seu povo quis a luta
E pensou em se juntar
Pra somar nessa labuta
Mesmo estando em gravidez
Ela estava resoluta.
A gravidez já avançada
Não causou impedimento
Aqualtune foi com tudo
Formando esse movimento
De convicta esperança
E com muito entendimento.
Junto com outras pessoas
Negras de muita coragem
Aqualtune fez a fuga
Mesmo com toda voragem
Foi parar em um quilombo
E falou de sua linhagem.
Todos lá reconheceram
Que era ela uma princesa
E por isso concederam
Território e realeza
Para a brava Aqualtune
Bem dotada de certeza.
Nos quilombos do Brasil
Era forte a tradição
De manter vivas raízes
Africanas na nação
Aqualtune isso queria
Disso fazia questão.
Mas a sua importância
Muito mais se mostraria
Não se sabe com certeza
Mas pelo que se anuncia
Aqualtune teve um filho
E Ganga Zumba ele seria.
Segundo essa tradição
Foi avó doutro guerreiro
De imensa relevância
Para o negro brasileiro
Era Zumbi dos Palmares
Liderança por inteiro.
Aqualtune, infelizmente
Faleceu numa armação
Planejada por paulistas
Com fim de destruição
Do quilombo de Palmares
E de sua tradição.
Sua aldeia foi queimada
Pelos brancos assassinos
Não se sabe bem a data
Do seu fim e desatino
Mas a sua história viva
Para isso a descortino.
Quando ela faleceu
Bem idosa já estava
Aqualtune sim viveu
Como líder destacada
Essa força feminina
Que a princesa exaltava.
Eu só acho um absurdo
Porque nunca ouvi falar
Na escola ou na tevê
Nunca vi ninguém contar
A história de Aqualtune
E o que pode conquistar.
Uma história como a dela
Deveria ser contada
Em todo livro escolar
Deveria ser lembrada
No teatro e no cinema
Que ela fosse retratada.
Mas eu tive que sozinha
Sua história então buscar
Foi porque ouvi seu nome
Uma amiga então citar
E por curiosidade
Na internet procurar.
É por isso que eu escrevo
E o cordel quero espalhar
Pra que mais gente conheça
E também possa contar
Tudo que Aqualtune fez
Pois é tudo de inspirar.
A história do meu povo
Nordestino negro forte
É tão rica e importante
É vitória sobre a morte
Pois ainda do passado
Modificam nossa sorte.
Quando penso em Aqualtune
Sinto esse encorajamento
A vontade de enfrentar
De mudar neste momento
Tudo aquilo que é racismo
E plantar conhecimento.

 FIM

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Dikanza (reco-reco)

Dikanza (reco-reco)
Definição a Dikanza é uma cana de Bordão ou uma cana de Bambu.
A Dikanza é composta por várias ranhuras que tem como função produzir o som tocado por uma vara, baqueta ou dedal, o conhecido de "ulape" que visa dar outra cadência rítmica.
O som é expelido na parte de trás da Dikanza.
Existem dois tipos de Dikanza, a de Bambu e a de Bordão.
A Dikanza é um instrumento milenar de origem banto das regiões do país de Ngola
Kiluange Kia Samba.
A Dikanza como instrumento musical pode ser tocada em estilos tais como: Semba, Kilapanga, Kazakuta, Boleiro, Rebita,  Rumba e etc.
Em Angola na terra de origem da Dikanza, ela também é conhecida por reco-reco na América do Sul mais propriamente no Brasil, porque os nossos antepassados na época da escravidão levaram consigo tais instrumentos e em virtude do som produzido: rec, rec lá os brasileiro adotam o nome de reco-reco (onomatopeia). Cá entre nós o som é mesmo kanza, Karacatcha, kanza, Karacatcha, logo o instrumento é Dikanza.
Se quiserem ouvir o som de uma Dikanza podem encontrar em algumas musicas que nós vamos citar a seguir: Makongo má Chiquita do Ferreira do Nascimento, Lemba dos Negoleiros do Ritimo, todas as musicas de Sofia Rosa acompanhado pelos Corvos.
“Instrumento milenar chamado Dikanza, que os brasileiros chamam erroneamente de reco-reco” segundo o povo angolano.

FONTE: Muginga Nguxi / VOA Português

Hungo (Hungu)

Hungo - instrumento monocórdio com forma de um arco de flecha com uma corda presa nos dois extremos de caixa de ressonância também é chamado em angola mbolumbumba.É muito utilizado na musica tradicional e popular em Luanda pelos grupo Muxiluanda.
Estima-se que o hungo tenha surgido por volta de 1500 a.C. o instrumento derivado de um arco foi encontrado nas mais diversas regiões do mundo, Novo México, patagônia, áfrica e estiveram presente nas mais variadas civilizações entre ela a egípcia, fenícia, hindu, persa e assíria. Porém há registros do hungo da forma que conhecemos, desde os tempos primitivos em angola e de lá foi trazido ao Brasil pelos escravos africanos.



*Hungo em português ou Hungu em português angolano


Agogô - Diferentes tipos e variações

Agogô
O agogô ou gã é um instrumento musical formado por um único ou múltiplos sinos originado da música tradicional iorubá da África Ocidental. O agogô pode ser o instrumento mais antigo do samba.

Etimologia
A palavra "agogô" vem do iorubá agogô, que significa "sino".

Instrumento musical
O agogô é um instrumento musical idiofone, compõe-se de duas até 4 campânulas de ferro, ou dois cones ocos e sem base, de tamanhos diferentes, de folhas de flandres, ligados entre si pelas vértices.
Para se tirar som desse instrumento bate-se com uma baqueta de madeira nas duas bocas de ferro, também chamadas de campânulas, do instrumento.

Na religião
Pode ser composto de duas ou três campânulas presas por uma haste de ferro, pertence ao Orixá Ogum, usado no candomblé onde também é chamado de Gã e em outras religiões afro-brasileiras, por isso é o primeiro instrumento que deve ser tocado nas liturgias dos cânticos. Como é um objeto sagrado, antes do seu uso deve passar por rituais litúrgicos de consagração, isso implica banho de folha, ervas, sacrifícios vegetais, animais e minerais para adquirir o (axé) "força vital" no sentido de interferir no transe dos iniciados. No candomblé é tocado com o aquidavi.

Na capoeira

Faz parte da "bateria" da roda da capoeira, onde é mais conhecido por "gã" - nome este que vem de akokô, palavra nagô que significa "relógio" ou "tempo", assim como um som extraído de um instrumento metálico.

Diferentes tipos de Agogô


O Agogô de Ogã

Utilizado nos ritos africanos do candomblé e muito tocados nos afoxés baianos, como o do nosso membro coletivo Filho de Gandhy. É também feito em chapa de aço galvanizado e vergalhão, tendo seu formato triangulado, diferente do tradicional por ser cônico. Tocado também com um bastão de aço.

   

 Agogô de Cobre


Feitos em aço, também encontrados em metais mais nobres, como: cobre ou bronze, prata, inox. E em materiais naturais com: coco e castanha do Pará, com cabos de madeira. É usado no samba e em suas vertentes, no afoxé baiano dos Filhos de Gandhy e na capoeira. O som tirado desse instrumento se dá através do impacto do bastão nas duas bocas de aços (campânulas) do instrumento.



Agogô de Castanha do Pará

O Agogô de castanha do Pará é feito de maneira artesanal com cabo de madeira parafusados em duas ou três castanhas do Pará. Tocado com um bastão de madeira (baqueta), sendo de utilização diversa, no mundo da percussão de efeito e também na capoeira.





Agogô de Coco Queimado

O Agogô de coco queimado, feito do mesmo modo de maneira artesanal com cabo de madeira parafusados em dois cocos secos que são queimados e envernizados. Tocado como os outros modelos, com um bastão de madeira.




Agogô de Cabaça

O Agogô de cabaça, feito do mesmo modo de maneira artesanal com cabo de madeira parafusados em duas ou mais cabaças que são envernizadas. Tocado como os outros modelos, com um bastão de madeira.





Agogô de Semente

O Agogô de semente, feito do mesmo modo de maneira artesanal com cabo de madeira parafusados em duas ou mais sementes que são envernizadas. Tocado como os outros modelos, com um bastão de madeira.



  

Agogô de Coco Lixado

O Agogô de coco lixado, feito do mesmo modo de maneira artesanal com cabo de madeira parafusados em dois cocos secos que são lixados e envernizados. Tocado como os outros modelos, com um bastão de madeira.



Variações do Instrumento


 Agogô Duplo de Metal

 

    

Agogô Triplo de Metal Paralelos

 Agogô Quádruplo


 Agogô Tribal de Metal

 Agogô Duplo Cilíndrico de Madeira

Agogô Triplo Cilíndrico de Madeira

 

 Agogô Duplo Cúbico de Madeira



 Agogô Triplo Paralelo de Metal Com Trava

 Agogô Triplo Linear de Metal



 Agogô Único de Metal


 FONTE: Mundo Percussivo