Aqualtune
Aqualtune também conhecida por Aqualtune Ezgondidu Mahamud da
Silva Santos foi uma princesa congolesa e guerreira. Sua história se passa no
século XVII.
Princesa-guerreira, um dos maiores símbolos de resistência e luta pela liberdade
negra, mãe de um dos maiores líderes pela luta da liberdade negra, e avó
de talvez o maior dos líderes da luta contra a escravidão. Ou se você quiser
resumir, simplesmente Aqualtune.
Não consegui saber de fatos sobre a
infância da princesa. Seu rastro histórico começa no ano de 1665, quando,
segundo a história, liderou cerca de 10mil guerreiros congoleses, no que ficou
conhecido como “a Batalha de Mbwila”, quando a sua tribo foi atacada por outra
de nome “Wachagas”- há quem diga que o conflito foi provocado pelos
portugueses, interessados em cativos para o comércio de escravos. O fato,
é que a tribo de Aqualtune perdeu o combate, e a cabeça o pai dela, o rei de
Mani-Kongo, foi cortada e exibida em uma igreja, enquanto a sua filha, foi
presa com seus companheiros e vendida como escrava.
Forte de Elmina, em Gana, atualmente, forte de São Thiago |
Então, teria sido enviada em um navio
negreiro para o forte de Elmina, em Gana, onde teria sido “batizada” por um
bispo católico e, como prova de seu batismo, foi marcada uma flor com ferro
quente em cima do seu seio esquerdo. Daí completou a travessia no navio
negreiro para o Brasil, onde desembarcou em Recife. Alguns dizem que ela
já teria embarcado grávida, e teria sido estuprada diversas vezes por outro
escravo, pois, forte e saudável, foi escolhida para ser vendida como escrava
reprodutora. Conta que em desespero, ao embarcar em Recife teria tentado
correr para o mar- provavelmente uma tentativa desesperada de voltar para a sua
terra natal.
Porém, nossa guerreira se encontrava em um
estado de letargia profundo. Provavelmente, depressão- e quem não
compreenderia? Já em Recife, foi vendida para uma fazenda
especializada em gado e o dono da fazenda, ao saber da sua origem, e que Aqualtune
ainda era venerada por alguns escravos devido a sua origem, a entregou para os
seus piores homens em sua fazenda.
Forte São Jorge da Mina e São Thiago |
E a letargia em nossa heroína continuava.
Até que, na altura do sexto mês de gravidez, ela sentiu seu bebê se
mexer e “seu sangue se mexeu junto”.
Então, ela ouviu falar em um chamado “Reino
dos Palmares”. Desde o primeiro momento da escravidão no Brasil, que vários
negros criaram centros de resistência fugindo para o interior. Mais ou menos em
1606, um grupo de escravos conseguiu se estabelecer nas montanhas de
Pernambuco, e ali conseguiram estabelecer um “mocambo”, na região
conhecida como Palmares.
Então, surgiu em Aqualtune a vontade de fugir e se juntar
ao povo de Palmares. Juntou-se a um grupo de escravos para se insurgir e
destruir a casa grande. Conseguiu e, no meio de sua fuga, mais escravos foram
se somando ao grupo ao longo do caminho. Conta-se que chegaram com ela
cerca de 200 escravos ao Reino de Palmares. Então, alguns contam que sua
origem real teria sido reconhecida, mas o fato é que ela se tornou o líder do
Reino dos Palmares. E dentro do chamado reino dos Palmares, ela teria fundado o
chamado “Quilombo dos Palmares”. Ali, Aqualtune deu a luz a dois filhos, ambos
os guerreiros que também entraram para a história: Ganga Zumba e Ganga
Zona, conhecidos pela sua coragem e liderança. Também teve uma filha, de nome
Sabina, que teve mais tarde, um menino chamado Zumbi, que mais tarde ficaria
conhecido como “Zumbi dos Palmares”, e seria reconhecido como um dos
maiores líderes negros da história.
O final da vida de Aqualtune é controverso. Alguns dizem que umas das
várias expedições enviadas pelo governo português e donos de fazenda teriam
queimado a vila onde ela vivia junto com outros idosos da comunidade. Outros
alegam que ela teria conseguido fugir. Outros ainda afirmam que ela
simplesmente morreu de doenças da velhice. O fato, é que há uma lenda que os
deuses da África teriam tornado nossa guerreira imortal, um espírito
ancestral que conduziu seus guerreiros até a queda definitiva do quilombo dos
palmares em 1694. Dizem que até hoje ela é lembrada em Pernambuco, e a
princesa, cantada na música Zumbi, de Jorge Bem Jor, seria uma
referência à Aqualtune.