segunda-feira, 30 de setembro de 2019

E aí? Toca ou não toca?

E aí? Toca ou não toca?


Mulher toca ou não toca tambor na Capoeira e em outras manifestações culturais? Quem nunca ouviu falar “Neste ou naquele grupo ou roda mulher não toca tambor”, fato este que precedem polêmicas de várias partes tais como, os machistas, “Mulher não sabe, não pode, ponto!”, as feministas, “Nós podemos, somos empoderadas e nada nos limita!”, alguns Mestres, “No MEU grupo pode! ou No MEU grupo não pode!”

No que tange a questão da mulher tocar ou não atabaques é importante salientar em primeiro lugar que, a capoeira carrega consigo uma africanidade de rituais e fundamentos inegavelmente ligados as religiões de matriz africana, não afirmo que capoeira tem religião, esse que será um outro artigo a ser discutido futuramente, mas reconhecemos que por exemplo o berimbau e o atabaque emprestam seus atributos sagrados e são reverenciados na roda, as cantigas e ladainhas narram causos e lendas de homens, entidades e orixás. Devido as estes rituais e fundamentos se fortalece os argumentos que mulher não toca tambor por ser um instrumento sagrado para algumas nações de matrizes africanas, porque a mulher necessita de um “preparo espiritual” para não ser prejudicada pois A vibração do tambor é um elo conector, ou até mesmo mulher pode tocar mas o “Batá” tambor de duas faces diferente do Atabaque.

Um certo dia conversando com a Mestra Nani João Pequeno sobre este assunto, ela conta que se na “casa” a mulher toca, okay, ela se necessário vai tocar tambor, e num samba de roda, se mulher não toca tambor, tudo bem, ela respeita a tradição, mas usando o exemplo de seu Avô, o saudoso Mestre João Pequeno, onde antigamente só os meninos tocavam o berimbau gunga, ela se esforçou, aprendeu, e depois de algum tempo passou a pegar o gunga nas rodas para tocar, certo dia perguntou à seu Avô e Mestre diante dos colegas... “Mulher pode tocar o gunga?”, chego a imaginar a reação de surpresa e orgulho do velho Mestre, então segundo ela, o Mestre disse que sim, se for capaz sim, e indagou, “E se quando você tiver seus alunos, seu grupo, você vai esperar alguém tocar para você? A mulher precisa ser capaz para não precisar esperar por outro.” 

Tentei descrever o melhor possível esse momento de aprendizado na presença da Mestra para elucidar com clareza esta questão de que nós mulheres podemos ou não tocar tambor, sugiro que nos esforcemos, nos dedicamos a aprender para não esperar por alguém que faça por nós quando necessário, mas vamos também saber o que é ritual, pega aí sinônimo de ritual: costume, hábito, norma, padrão, prática, praxe, regra, rotina, uso. Regras estabelecidas para um ato solene,cerimonial, etiqueta, formalidade, protocolo.

Independente de tantas batalhas que nossa sociedade enfrenta como combate a desigualdade de gênero e machismo, se nossa arte pede fundamento e rituais, acho válido seguí-los para preservar o futuro da tradição, entretanto, devemos carregar todos os conhecimentos possíveis da capoeira e suas manifestações culturais.

Eu acho...
Axé Galega